Estava refletindo e estudando sobre a poder da genética e dos impulsos na determinação dos nossos comportamentos. Eu tinha uma vaga noção desse impacto dos genes, mas não imaginava o quanto são invasivos em nossas vidas. Imagine o nosso genoma como uma grande memória biológica cujo único objetivo é conseguir recursos com fins de reprodução e transferir essas informações aos descendentes. Somos servos ditados por essa força de perpetuação.
E daí? “Eu faço minhas próprias escolhas, como profissão, carreira, amigos, etc”! Certamente quando decidimos por algo existe algo de nós, entretanto, os genes, estão sorrateiramente nos enviando mensagens que costumam ser acatadas se não percebermos. Bilhões de anos de evolução com sucesso não seriam facilmente contidos. Os genes falam a todo instante, sussurram, coordenam, induzem, ludibriam e nos fazem acreditar que estamos escolhendo.
Pensamos em comida durante 15 % do nosso tempo e esse número chega a 30 % quando se fala em transtornos alimentares. Passamos 8-12 horas por dias em atividades relacionadas a alimentação, conservação (banho, vestir-se, cuidar-se) e produção com objetivo de angariar recursos a fim de ter uma casa confortável, atrair uma parceira ou parceiro, ter filhos, acumular recursos para prover para eles até que consigam se virar. Quando se veste bem, escolhe seu carro, batalha por uma promoção, no fim das contas seus genes estão falando: “sobreviva e tenha filhos”.
Não vamos para os extremismos. É evidente que fazemos escolhas, no entanto, a biologia produz muito barulho. É automático e o que talvez pense que é de fato seu desejo é a expressão de uma memória genética de bilhões de anos. Como diferenciar? Como termos mais consciência do que queremos e como podemos saber se de fato é escolha ou uma ilusão criado pela nossa biologia?
Não é tarefa fácil. Envolve auto-consciência e sabedoria de como nos comportamos e um olhar curioso para os impulsos. Saibam que genética e impulsos são irmãos siameses. Sentimos, raiva, alegria, desejo, inveja, ansiedade. Nossa biologia nos intima a todo instante a dar respostas que reproduzem o enredo “sobreviva e reproduza”.
“E se eu tentar reprimir tudo isso”? Tente enganar essa sabedoria que se impôs e se impõe até hoje, desde os tempos remotos. Acredita que pode dar certo? Existe uma energia psíquica na fonte disso tudo. Tentar reprimir seria como tentar tampar um vulcão em erupção. Não é uma boa ideia. A energia busca uma forma de se propagar, como na natureza, e o que podemos fazer é direcionar nossa atenção para o que desejamos intrinsecamente.
É uma tarefa trabalhosa de vida, mas não impossível. Começar a se entender, reconhecer impulsos, as aspirações e tentar conduzir o barco para onde é do nosso desejo, respeitando os limites impostos pela correnteza.
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