Psicoterapia

Você se rotula muito? Saiba como isso pode ser problemático!

A interseção de áreas da psicologia

É interessante, o quanto há de interseção entre várias áreas da psicologia. Apesar de geralmente os campos não conversarem entre si e até existir conflitos entre eles, há mais elementos afins que diferenças. Um exemplo é o papel do rótulo nos transtornos mentais. E me refiro a rótulo o pensamento mais nuclear que temos sobre nós mesmos, as pessoas e o mundo.

Mindset

A autora Carol Dweck em seu famoso livro sobre mindset traz de maneira recorrente o papel negativo do rótulo sobre nossas ações. O mindset fixo se apega a convicções da pessoa, rótulos, e a mente evita quaisquer ações que possam indicar fragilidade desse pensamento. Arriscar, se esforçar e falhar, coisas normais no desenvolvimento e na caminhada para o sucesso, afugentam quem tem esse tipo de mindset. Sem perseverar, sem dedicação e reconhecimento da vulnerabilidade não há aprendizado e crescimento. O resultado é o temido fracasso.

Terapia cognitivo-comportamental

Já a terapia cognitivo-comportamental ao invés de falar de rótulos, traz a definição de crenças, que são ideias nucleares sobre nós, os outros e o mundo. Sua interpretação não difere muito da comentada acima. Crenças rígidas e negativas nos impedem de alçar vôos maiores. Quem se acha incompetente, pouco inteligente e evita enfrentar os desafios; quem se apega firmemente a essas convicções se esquiva do que lhe é importante e também fracassa.

Comunicação não violenta

Por incrível que pareça, o rótulo não se estende somente à ciência cognitiva. Um exemplo é a comunicação não violenta, foco de estudo do psicólogo Marshall Rosemberg. O grande problema das comunicações é a acusação, a necessidade de se estar correto e o outro errado. O que é isso senão uma questão de rótulo? “Você nunca presta atenção nos nossos filhos (você é um pai displicente); você tem que me ajudar mais nas questões de casa (você não ajuda). Ao invés de a comunicação ser uma forma de expressão de sentimentos, desejos e necessidades se torna um combate e seu único objetivo é provar que o outro está incorreto.

Terapias contextuais

Enquanto na comunicação não violenta, o rótulo vem disfarçado, nas terapias contextuais como terapia de aceitação e compromisso e abordagens voltadas para mindfulness, o seu papel é explícito. Ambas buscam gerar o que se chama de descentramento, ou seja, a percepção dos pensamentos como pensamentos, não como nós mesmos. Se cria a figura do eu observador, um foco de consciência de onde nos observamos, inclusive as experiências internas. O rótulo se torna foco de observação, mais um pensamento. E podemos escolher segui-lo ou ir em outra direção.

Independente da área específica da psicologia, os rótulos acabam sendo a manifestação de uma rigidez psicológica que limita a vida, as relações e o desenvolvimento. Devemos estar atentos a eles e em qualquer abordagem terapêutica precisam ser trabalhados, mesmo que traduzidos com expressões distintas.

Caio Almeida

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