Começo a escrever esse pequeno texto, ainda sem saber exatamente o que vai sair. A primeira peça de ideia que brotou dentro de mim foi que a nossa mente durante boa parte do tempo age de uma maneira contraproducente. Parcela significativa dos nossos recursos energéticos é gasta com processos cognitivos e emocionais ineficazes para trazer satisfação, bem-estar ou até produtividade.
Por que a mente age contra nós mesmos?
Para responder a essa perguntar necessitamos entender que a mente é o que chamamos os recursos cognitivos como os pensamentos e memórias. Também nos referimos a isso como o lado subjetivo ou psicológico da vivência humana. O outro ponto que embasa o porquê de a mente agir de uma maneira pouco útil para nós, é que existe um arcabouço biológico por trás dela, o cérebro.
Por que o cérebro atrapalha o bom desempenho da mente?
Vamos entendê-lo como um órgão extremamente complexo. Quando olhamos para os aspectos da evolução biológica do planeta e seres vivos, reconhecemos no ser humano o maior desenvolvimento. Foram milhares ou milhões de anos de desenvolvimento da vida para que um ser vivo pudesse produzir pensamentos e memórias e com isso tomar conta do planeta (não necessariamente cuidar).
Ser mais desenvolvido do ponto de vista orgânico não muda a realidade do cérebro orgânico, limitado pelo seu próprio estado de desenvolvimento físico. Ao longo dos milhares de anos, o sistema nervoso central foi mudando a passos lentos. Enquanto a sociedade avança muito rapidamente e junto com ela as ideias e aspectos culturais que a representam, a vida biológica não acompanha.
A nossa mente é reflexo da biologia e dos elementos culturais construídos ao longo dos milhares de anos. A cultura avança muito rapidamente e a matéria orgânica não segue no mesmo ritmo.
E qual é a consequência de o cérebro não acompanhar a evolução da sociedade?
Acredito que essa é a grande pergunta que embasa o texto. A mente está séculos à frente e o cérebro milhares de anos atrás. Nossa mente lida com questões extremamente diferentes das que os nossos antepassados distantes lidavam. Hoje em dia, vivemos em cidades complexas, utilizamos diversos aparelhos tecnológicos, assumimos várias funções sociais e lidamos com riscos nunca antes imaginados por nossos pares da Mesopotâmia, por exemplo, ou ainda mais longe, das cavernas.
Se o receio dos antecessores era a morte brutal, hoje em dia, para boa parte da humanidade, é manter o emprego e conseguir recursos financeiros. É ir bem na escola, atender expectativas profissionais, sociais ou de outra ordem.
Enquanto a nossa mente entende tudo isso, o nosso corpo, representado pelos neurônios, age como se estivéssemos lá atrás. Se preciso ter um bom desempenho numa apresentação e estou receoso, a minha reação será semelhante à de um homem das cavernas que teme ser morto pelo tigre dente de sabre.
E existe uma forma de lidar com o atraso do desenvolvimento do cérebro?
Sim! Como a matéria orgânica demora milhares de anos para mudar através da evolução genética, não temos como brigar com essa realidade. Seria contraproducente e o resultado claro: derrota. O que podemos fazer é utilizar esse conhecimento a nosso favor. O cérebro é atrasado; é uma premissa importante.
Cada pessoa tem suas dinâmicas das cavernas mais ou menos desenvolvidas em áreas específicas. É trabalho longo de reconhecimento e auto-consciência de como meu cérebro antigo responde a demandas novas. Sempre que reconhecemos que é o homem das cavernas falando, podemos conduzir gentilmente a nossa vontade para o que desejamos, para a mente de hoje, com toda sua complexidade cultural e social.
É trabalho que demanda motivação, persistência, compreensão e aceitação. O cérebro vai agir como ele está programado pela genética e nós vamos considerar isso como normal da vida biológica. Sem dispender recursos energéticos desnecessários numa briga contra a a natureza das coisas, podemos direcioná-los para o que de fato importa, é útil e funciona.