A questão do eu observador é bastante importante e interessante no que se refere aos quadros depressivos. Vou descrever brevemente dois tipos de “eu” de acordo com a terapia de aceitação e compromisso. Existe o eu conceitual, habitualmente o que reconhecemos, que seria definido pelo conjunto de ideias e memórias que temos de nós mesmos: “sou marido de fulana, amigo de beltrana, tenho tal profissão, gosto de tais e tais coisas, na minha vida aconteceram os seguintes fatos…”. O segundo eu seria o observador, ou seja, o eu representado de um espaço de nossa consciência que simplesmente nota, registra ou observa a nós mesmos. Eu posso reconhecer meus pensamentos, emoções, sensações. Quem observa tudo isso é o eu observador.
É comum não ter a percepção de existência do eu observador e simplesmente acreditar que os pensamentos e emoções são a representação de nós mesmos. A consequência é facilmente ficar fixado, unido, entrelaçado a eles, fenômeno chamado de fusão, que tem como consequência em muitos casos sintomas depressivos como tristeza, falta de energia, perda de vitalidade.
Qual é a importância da compreensão da existência do eu observador? Saber que existe um espaço dentro de nós que sempre está presente, imutável, capaz de resistir a qualquer turbulência. Permite que utilizemos uma capacidade enorme de enfrentamento de situações difíceis, tanto internas, quanto externas. Desse espaço que observa nosso mundo interno ou externo, podemos de maneira consciente, enxergar os pensamentos e emoções, entendendo eles como são, tão somente pensamentos e emoções. E partir disso tomar decisões, definir ações, não baseadas em impulsos direcionados a neutralizar dor ou fugir de desconfortos, mas com o objetivo de chegar aonde desejamos, injetando disposição, energia, ânimo.
Na depressão o treino dessa habilidade, e como toda habilidade, é passível de ser treinada, permite lidar melhor com vivências internas que geram os sintomas depressivos sem tanta dor e sofrimento. É possível ainda atuar de maneira mais consciente sem tanto envolvimento com processos de pensamento negativos, com foco em traçar ações em busca dos objetivos que elevam a felicidade.