Mitos da história da psiquiatria.
Já escrevi em outra ocasião sobre a imagem da psiquiatria, como é vista aos olhos da grande público. Havia feito algumas colocações sobre o papel da mídia e da arte na mistificação da imagem do tratamento psiquiátrico. Quem nunca assistiu um filme ou novela cuja retratação do psiquiatra e paciente psiquiátrico traz uma conotação extremamente negativa? Recordo de uma apresentação que vi em um congresso sobre a representação do psiquiatra e da sua área de atuação em 20 filmes. Em 18 deles havia uma conotação negativa.
Hoje escrevo sobre a história da psiquiatria, sua contribuição para essa imagem negativa e como isso mudou ao longo do tempo. E brevemente trago algo relacionado à luta política e ideológica também presente.
As doenças mentais sempre existiram, no entanto, o desenvolvimento da psiquiatria como uma especialidade médica é recente. Até a década de 50 praticamente só existia o lítio e a eletroconvulsoterapia como tratamentos eficazes. Nessa década surgiram várias medicações e ao longo das seguintes o tratamento avançou muito com desenvolvimento de antipsicóticos, antidepressivos, estabilizadores do humor, medicações para ansiedade, pânico e transtorno obsessivo-compulsivo. Foi uma revolução tanto em quantidade quanto em qualidade, já que os medicamentos apresentavam menos efeitos colaterais.
Até então, o tratamento envolvia psicoterapia, eletroconvulsoterapia e poucas opções de medicações. Durante muito tempo, pelo desconhecimento da doença psiquiátrica, o tratamento foi centrado em internações psiquiátricas. Surgiu a triste imagem dos “manicômios”, hospitais psiquiátricos pouco estruturados e abarrotados de pacientes. Obviamente isso deixou marcas tristes e até hoje existem grupos que imaginam essa mesma história apesar de que não existem mais manicômios no Brasil, mas hospitais psiquiátricos onde pacientes graves (minoria) tratam durante um período e voltam para casa.
A realidade da psiquiatria de hoje é eminentemente voltada para atendimento em consultório, humanizado e se faz uso de recursos muito mais modernos que antigamente. A exceção é a internação, e nesse caso sem a imagem manicomial de outros tempos, são breves períodos de intensificação do tratamento com posterior reintegração social.
É importante desmistificar essa imagem e continuarei abordando o tema pois existe um grupo político que até hoje vive nesse passado reproduzindo de maneira incorreta uma realidade do passado que há muito já não é presente.
Dr Caio Magno – Médico psiquiatra – São Paulo – SP