Acredito que um dos grandes campos psicologia do final do século XX e início do século XXI são as pesquisas relacionadas à atenção. Tal domínio cognitivo foi e ainda continua sendo estudado por várias linhas diferentes de pesquisa. Duas me interessam mais; os estudos de mindfulness e fluxo.
Mindfulness
Mindfulness é definido de muitas formas. Neste texto vou considerar a seguinte definição:
é o estado de consciência resultante de se levar intencionalmente a atenção ao momento presente de maneira não julgadora e não reativa. São observados portanto 3 componentes:
Atenção
Intenção
Qualidade da atenção: não julgadora e não reativa.
Existem práticas e atitudes voltadas para o desenvolvimento da habilidade, seja de forma meditativa, seja através de outros elementos como em alguns tipos de terapia comportamental. O objetivo é estar presente, atento, vivenciando a experiência momento a momento.
E daí? Para que estar atento ao presente? Para que estar conectado à experiência do momento?
Possibilidade de escolher
Muitas ideias se passam na minha mente quando me faço essa pergunta, mas talvez uma principal se sobressaia. O objetivo é ser capaz de escolher.
Provavelmente um grande interrogação se fez na sua cabeça. Qual é a relação de escolha e atenção? Num golpe de vista não parece haver, mas é bem próxima, imbricada. Dê importância a esse ponto. Caso deseje, ignore o resto. Só somos capazes de escolher se reconhecemos o que se passa conosco.
Isso mesmo. Se não formos capazes e habilidosos para focar nossa atenção nas experiências internas e externas do presente não estaremos escolhendo, mas sendo escolhidos. Seremos reféns do outro, da nossa memória biológica e da cultura. Viveremos a repetição do funcionamento desses três aspectos, mas certamente não da dinâmica das nossas próprias vida.
Fluxo (flow)
O pesquisador Mihaly Csikszentmihalyi no livro “Finding Flow: The Psychology Of Engagement With Everyday Life (Masterminds Series)” explica que a atenção ou foco é necessário para que a consciência não fique no caos. Considera que existe um estado chamado de entropia psíquica em que não conseguimos usar a atenção de maneira efetiva para lidar com os acontecimentos ao redor. E o contrário disso significa conseguir focar, manter a motivação em direção às ações desejadas, reconhecendo e manejando os pensamentos e emoções que surjam. Reduzindo a entropia psíquica com o foco, motivação e reconhecimento os estados internos é possível entrar num estado conhecido como fluxo.
Fluxo é uma vivência da consciência em que o que sentimos, pensamos e desejamos estão em harmonia. Nesse estado a sensação é de estar completamente envolvido pela experiência e ações que também se seguem harmonicamente.
A experiência de fluxo é comum em alguns tipos de atividade com três características:
Ter uma claro arranjo de metas que requerem ações apropriadas como num jogo de xadrez ou a tocar um instrumento.
Feedback imediato: temos como saber se estamos performando bem ou não imediatamente após a ação. Se uma pessoa está cantando num estado de fluxo, caso haja um erro, imediatamente reconhece
Atividades em que a pessoa tem um desafio a ser vencido em sintonia com suas habilidades (idealmente surge mais com a combinação exigência com habilidades elevadas).
No estado de fluxo qualquer coisas que a pessoa faz é válida tão somente o fazer por si só; viver se torna a única razão. Nessa harmonia que a vida acontece.
Sei que é um tema complexo e desejo deixar bem clara, a mensagem: atenção e reconhecimento do interno é essencial para a escolha. Fluxo é a vivência máxima da escolha quando todas as faculdades estão agindo em harmonia. Desenvolver fluxo em aspectos da nossa vida é viver engajado, envolvido pelo que somos e desejamos.